Opinião: Conflito de gerações…

Onde se compara o relacionamento interpessoal «à mistura de ácido MURIÁTICO com bolinhas de papel de alumínio fechadas numa garrafa de plástico». Eis uma reflexão, necessariamente parcial, sobre o «divórcio entre gerações», num artigo de um bombeiro que exerce o direito à opinião.

O relacionamento interpessoal é algo de extrema complexidade, que não é possível caracterizar por completo porque, para isso, seria necessário estudar todos os seres humanos de todas as épocas e de todos os tempos. Mas, quando este relacionamento tão complexo envolve pessoas de diferentes faixas etárias e com níveis de pensamento opostos, a interacção poderá ser comparada à mistura de ácido sulfúrico com bolinhas de papel de alumínio fechadas numa garrafa de plástico, isto é, uma mistura explosiva. Porém, nem todos os relacionamento são assim (explosivos) – e ainda bem!

Penso que os conflitos começam quando os mais novos, que estão “com o sangue na guelra”, querem “mudar o mundo”, isto é, querem, simplesmente, tornar os processos mais simples, mais activos e até mesmo mais fiáveis; como, por exemplo, no trabalho, quando se pode substituir um monte de papelada por uma única folha.

Este processo pode ser complicado, uma vez que os mais “sectários” não estarão dispostos a aceitar a mudança e tenderão a oferecer resistência aos “idealistas”. Esta ideia aplica-se, por exemplo, ao chefe que se recusa a admitir que está ultrapassado ou, simplesmente, a aceitar que a proposta de um determinado subordinado possa ser a mais correta. É deste tipo de conflitos que todas as gerações têm sofrido e que, por vezes, dão origem a verdadeiras “batalhas”.

Quando o “campo da batalha” é o seio familiar, as coisas complicam-se, pois a vida dos dias de hoje jamais será igual aos tempos dos meus avós, em que a mulher ficava em casa a cuidar do lar e da educação dos filhos. O que é um facto é que hoje sou “obrigado” a concordar quando se diz que há uma taxa muito elevada de divórcio entre pais e filhos, o qual vai sendo alimentado desde o nascimento das crianças.

Passados quatro ou cinco meses sobre o nascimento, a criança vai para uma creche/jardim de infância, de onde só sai para ir para a “escola primária”. Mais tarde, quando está na “primária”, encontra-se também num centro de ocupação de tempos livres, até entrar no segundo ciclo. A partir daí, está por sua conta. E, das duas, uma: ou é um menor a quem foi incutido um grande sentido de responsabilidade e que sabe comportar-se em casa na ausência dos pais; ou torna-se em mais um número do insucesso escolar, entre outros problemas sociais.

Como se não bastasse tanta ausência, os pais, muitas vezes, vêm stressados dos seus trabalhos (porque, cada vez mais, estes se tornam mais exigentes), sem “pachorra” para “aturar” os seus descendentes. E o que fazem eles para que os filhos não “chateiem”? Que fazem, muitas das vezes, os pais para que os meninos continuem a gostar deles? Compram-lhes tudo e mais alguma coisa, até a pseudo-felicidade, o pseudo-carinho e a solidão, criando no seu imaginário (dos pais) uma certa pseudo-harmonia familiar. O mais certo é, “meia dúzia” de anos mais tarde, os primeiros problemas sociais começarem a surgir, isto é, a criança que tinha tudo pode vir a tornar-se num adolescente rebelde.

Uma criança sem carinho dos pais, quando se torna adulta, não é capaz de reconhecer nos seus ascendentes o sacrifício que estes fizeram para a criar. A imagem que as crianças guardam é de solidão e abandono, e esta irá dar continuidade ao divórcio entre gerações.

Fonte: Mauro Montenegro Henriques

5 Replies to “Opinião: Conflito de gerações…”

  1. Por sugestão do Mauro, recomendo a leitura de um artigo publicado no site da revista Visão. «Um dia destes, vão ser os paizinhos a ir parar ao hospital com um pontapé e um murro das criancinhas no olho esquerdo», escreve o autor – Ler artigo.

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  2. O conflito de gerações tende a acentuar. O “mundo” feito por nós, está cada vez mais livre e mais liberal, ou seja, existe um maior espaço de manobra de qualquer pessoa que tenha o desejo de se mexer no meio da sociedade. O interessante está, nesse conflito de gerações, como em tudo, tirar o melhor partido dele. Acredito que possa existir um entendimento recíproco entre pessoas de faixas etárias distintas, os ingredientes essenciais são somente o respeito e a cumplicidade. O respeito pelas ideias do outro, a cumplicidade pela partilha dessas mesmas ideias.
    E acredito, ainda na inocência dos meus dezassete anos, que temos o mundo nas mãos e que ainda vamos a tempo de o moldar ao nosso gosto.

    Uma vez mais gostei da tua crónica. Penso que a podias alongar um pouco mais, seria interessante.

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  3. Correcção:

    Onde se lê “ácido sulfúrico” dever-se-á ler ácido muriático.

    Obrigado, Carlos Marta, pelo alerta.

    As mais sinceras desculpas pelo lapso.

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  4. Para haver um conflito e perciso 2 pessoas mas se uma delas o ivitar nao havera conflito devera mostrar inteligencia e saber avaliar as cituacoes.Durante a sua vida ira defrontarse con inumeras cituacoes sejao boas ou sejao mas devera momorisalas e ver as suas consecuencias para que quando se encontrar nelas saber qual a melhor escolha.E preciso falar com os filhos nas alturas certas poderao nao faser caso ate diser que esta errado mas ira chegar a altura em que irao se lembrar que afinal e verdade.os filhos nao pedem para nacher portanto e responsabilidade dos pais dar condicoes e educacao nesesaria para que quando chenguem a maior idade poderem seguir sozinhos “as segonhas quando chega a altura se os(filhos)nao abandunarem o ninho atiram nos para fora”.

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  5. Pois é, ainda não li o artigo que o Mauro propõe mas o titulo tudo diz e eu tenho um belo exemplo vivo disso o meu bairro, crianças criadas com tudo, nunca falta nada, num mundo de certa forma marginal (no caso especifico do meu bairro) em termos de companhias ou profissões duvidosas, que vão crescendo aprendendo estes rituais e que hoje mesmo em frente á minha casa (hoje em dia já não tanto mas há 3/4 anos) era semana sim semana não a filha a bater na mãe e a policia a bater em casa. Esta rapariga nunca teve educação nunca lhe foram transmitidos os valores de responsabilidade, de amor, carinho, seriedade tudo o que uma família deve transmitir a um filho para que ele ao crescer possa ser uma pessoa integra, de respeito e seria em tudo o que faça.

    Pois bem, esta rapariga envolveu-se com um marginal, teve uma filha vive da droga (embora aparentemente não consuma) e está hoje a cometer o mesmo erro que a sua mãe cometeu leva a sua filha consigo para junto do seu grupo de amigos, continua a bater na mãe à frente da filha…. Agora digam-me que exemplo terá esta criança filha de pai marginal (preso de momento), mãe que vende droga e que a leva pra junto dos amigos, e uma avó que continua a fazer o mesmo que fez à filha dá-lhe tudo o que ela quer…

    Quero só acabar o meu comentário ou relato da vida real com a pequena chamada de atenção para quem viu (ou não) ontem deu na SIC uma reportagem sobre educação das crianças se se deve dar uma palmada ou colocar de castigo e tal como o médico referiu uma palmada bem dada na altura certa não faz mal, mas o que magoa mais (dito pelas próprias crianças na entrevista) é um castigo bem dado pois a palmada dói na hora mas passa, agora o castigo ficam a remoer durante muito tempo o que os faz pensar no que fizeram e não deverão voltar a fazer. Se as pessoas embora stressadas pudessem perceber que é importante educar e dar atenção ao que os filhos fazem de bem ou de mal não existiriam tantas pessoas mal formadas e marginalizadas.

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