Anotações e notas biográficas desde os 15 anos de Francisco Joaquim Batista

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Natural de Montemor-o-Novo, já entusiasta pela arte da música, aprendiz na Sociedade Filarmónica Antiga Montemorense, (Carlista), maestro José Valério, que depois de um ano de aprendizagem me fez executante da banda, com 16 anos de idade.

1908

Em 1908, fui componente da Tuna 1º de dezembro Montemorense, sob a direção de Eduardo Geraldo, executando Violão de quatro cordas.

Aos 19 anos pensando já no futuro, tive o empreendimento de construir umas casas para habitar, que não foram concluídas por ter ingressado nos Caminhos de Ferro do Estado. Há nesta ação da luta pela vida, um caso digno de registo, que merece ser mencionado nesta anotação, a menor idade que me impedia de realizar a transação e assinar a escritura de venda do terreno, visto tratar-se de um menor.

Os factos da minha menor idade não prejudicaram o meu pensamento e a construção das casas foi um facto, pois o dono do terreno achou interessante a minha atitude e autorizou a construção, sendo a escritura feita e pago o terreno depois da minha idade o permitir.

O dono do terreno era o grande e popularíssimo Montemorense, que em vida se chamou Visconde da Amoreira da Torre, homem rico e amigo dos seus conterrâneos e da sua terra.

Aos 22 anos ingressei nos Caminhos de Ferro do Estado (1 de julho 1913) fixando residência na Vila da Moita do Ribatejo, localidade a onde permaneci 12 anos, tendo em primeiro lugar trabalhado para que naquela vila fosse criado um curso noturno de instrução primária para ferroviários, o que consegui, tendo no referido curso, conseguido o exame de instrução primária, 4 de agosto de 1914.

Como entusiasta pela arte musical, em 1919, tentei e consegui a reorganização da Banda Estrela Moitense, que esteve mais de 10 anos suspensa.

Como começou os trabalhos da reorganização; depois da devida autorização de Autoridade Administrativa, chamei todos os antigos executantes da antiga banda, poi todos tinham em seu poder os respetivos instrumentos, foi-me cedida a cocheira do senhor Manuel Soeiro, conhecido por Manuel Ceguinho, foi a primeira casa de ensaio, junto encontrava-se um cavalo que assistia aos ensaios que ali se realizaram. Foi ensaiado em primeiro lugar o Hino de 1º dezembro, que nesse mesmo dia Feriado Nacional, se deu início à nova reorganização, no ano de 1919.

A fundação da Estrela, 29 de outubro de 1869, teve uma crise em 1998. Que foi solucionada em 1 de maio do mesmo ano, além disso teve fazes com pouco brilho artístico até à minha reorganização, ficando a banda constituída por 18 executantes e o seu primeiro regente foi o senhor J. Carvalho músico de 1ª classe da marinha. A primeira Direção foi constituída pelos senhores José Carvalho, António Gounilho, Luís Garcia, Francisco Joaquim Batista e António Justino.       

Em 1921 organizei uma corrida de touros para a compra de fardamentos. O grande benemérito Samuel Santos Jorge, cedeu-nos 10 touros, cedência patrocinada pelo nosso querido amigo António Antero.

Resultou desta corrida uma receita líquida de 2.600$00, que com cuja quantia se fez a aquisição de fardamentos de cotim para a banda.

Assistiram à corrida 4 bandas de música, 1º dezembro de Aldeia Galega, Sarilhos Grandes, Alhos Vedros e Estrela Moitense. A organização da corrida de amadores de Lisboa e Moita, fazendo parte o espada Luiz Paiva. O cavaleiro Joaquim Quintino e o cabo de forcados João Soeiro. Ao 5º toiro já não havia toureiros porque estavam na enfermaria e o Luiz Paiva faltou ao contrato. As bandas que tiveram a gentileza de assistir à nossa corrida, foi-lhe dispensada uma receção na nossa sede com afirmações de amizade e colaboração. Estive à frente da banda como Diretor durante 3 anos, conseguindo artisticamente uma relativa posição, em virtude de os Moitenses terem uma vocação musical, visitando portanto em excursão Montemor-o-Novo, minha terra natal, visitando também Setúbal, Aldeia Galega, Barreiro, Alhos Vedros, Sarilhos e Rosário.

Em setembro de 1921, onde assistiram a uma corrida de touros, realizaram um concerto no jardim público de Montemor-o-Novo. Era naquele tempo Maestro do Estrela Moitense, o grande artista compositor Alfredo Reis de Carvalho.

Quando terminou a ditadura de Sidónio Pais, fui nomeado para fazer parte da Comissão Administrativa da Junta de Freguesia da Moita do Ribatejo, cargo que deixei, quando se realizaram eleições gerais, sendo a junta entregue ao Dr. António José de Almeida.

Na Moita do Ribatejo, também colaborei na Comissão da Construção do edifício para a Associação dos Socorros Mútuos (Monte Pio).

1924

Em 1924, o maestro Francisco Carraça Vila Nova, ao tempo regente da banda dos Penicheiros do Barreiro, convidou-me a auxiliar a banda, por ter falta de uma Trompa de Harmonia, instrumento que eu desconhecia, pois, a sua execução estava sujeita à clave de sol, conquanto, o meu instrumento era Bombardino em clave de fá, acrescendo mais as dificuldades existentes na execução de um e outro instrumento que muito diferem, tive portanto, de fazer uma fixação de clave e conhecer bem e extensão do instrumento a onde encontrei sérias dificuldades, que tiveram de ser vencidas rapidamente.

Com aturado estudo e alguns ensaios a banda deslocou-se a Lisboa, para efetuar um concerto na Academia do Socorro.

O reportório era de grande responsabilidade para o instrumento a meu cargo pois executou-se entre outros números, parágrafo 3º – Corte de Granada, Carme e Cavalaria Rusticana etc, etc, mas felizmente a sorte protegeu-me, a Banda dos Penicheiros do Barreiro, que nesse concerto estavam presentes muitos artistas da arte dos sons, deu um concerto de uma esmerada execução.

O maestro Vila Nova, terminado o concerto, deu-me um abraço de consolação, dizendo-me quem tinha razão era ele, porque sabia muito bem que acima dos conhecimentos técnicos, estava a grande vontade de brilhar do nosso presado amigo Batista.

Agradeci ao maestro Vila Nova, o meu esforço foi coroado de êxito é certo, a banda foi a Lisboa, cheia de preocupações, pois que, o reportório era de grande categoria e todos os amadores deviam ir senhores do seu papel, o que não acontecia com o executante da Trompa de Harmonia, sorte e muita sorte, atendendo que o executante não conhecia o instrumento, tendo sido forçado rapidamente a transformações dos seus poucos conhecimentos musicais.

Apesar de, na minha vida de filarmónico ter tido responsabilidade de execução em primeiro plano muitas vezes, esta para mim, foi a maior glória como amador de música.

Em 1925, acompanhei como executante a banda dos Penicheiros a Coimbra, às Festas da Rainha Santa, onde permanecemos 5 dias.

Em 1926, em virtude de ter concorrido ao lugar de Revisor de Bilhetes dos Caminhos de Ferro do Estado, com grande desgosto, foi forçado a abandonar a Banda dos Penicheiros do Barreiro, grupo musical que constituía um nível artístico digno de admiração de todos os amigos de música, além disso, a camaradagem existente entre os 45 executantes e o seu maestro muito nosso amigo, o senhor Francisco Carraça Vila Nova.

De 1925 a 1945, fui um assíduo aos concertos da Banda da Guarda Nacional Republicana, no Quartel do Carmo, que me serviu de escola, no que diz respeito à execução e afinação que me levou a emocionar a minha sensibilização de maneira a autocriticar-me criteriosamente, e apreciar qualquer execução, seja ela executada por amadores ou artistas.

1936

Em 1936, comprei em Pinhal Novo 1.050 metros de terreno, a fim de construir uma casa para habitar.

Este empreendimento já há muitos anos germinava no meu pensamento, pelo menos desde dos 19 anos de idade, cuja ideia não evitou o começo da construção de uma casa para habitação em Montemo-o-Novo.

Este problema não era muito fácil de resolver prontamente, para quem vivia apenas de um pequeno ordenado, mas com trabalho e orientação tudo se haveria de conseguir, não faltando a saúde.

Três anos depois cheio de trabalhos e canseiras, restrições na vida de toda a espécie, eu habitava a cas que pensei e sonhei aos 19 anos de idade. Considerei grande triunfo económico porque me ausentou do pagamento de rendas de casa, preocupação máxima de um funcionário, operário ou trabalhador, ficando assim resolvido o sonho que germinava há trinta anos.

Em 1945. junho fui reformado do meu lugar dos Caminhos de Ferro, depois de prestar 35 anos de serviço, dedicando-me à conclusão da obra que ainda não estava completa, e comecei a pugnar e interessar-me pelo progresso de Pinhal Novo, como seu habitante.

Francisco Joaquim Batista(Reformado dos Caminhos de Ferro)                    

José M F O Cebola