Nossos primeiros tempos

A primeira grande festa dos Bombeiros de Pinhal Novo ocorreu em 3 de maio de 1953. Festejava-se nessa altura o segundo aniversário da Associação.

Presentes, Direções, Comandos e Corpos Ativos dos Bombeiros Voluntários «Sul e Sueste», Moita, Montijo, Vendas Novas, Palmela e Setúbal e Comando e Direção dos Bombeiros Voluntários Privativos da Companhia União Fabril.

As cerimónias, que já tinham começado em 1 de maio, culminariam com uma homenagem a Guilherme Gomes Fernandes, o lendário e arrojado Bombeiro que, em 1900 à frente dos Voluntários do Porto, de que foi fundador, conseguiu o 1º Prémio no Campeonato do Mundo. Foi em França nesse princípio de século e esse acontecimento teve na altura um impacto extraordinário. Os Bombeiros Portugueses eram os melhores do mundo!

Em Pinhal Novo, nesse dia 3 de maio de 1953, foi descerrado um busto de Guilherme Gomes Fernandes. Quem o descerrou foi o sócio mais jovem da Associação, na altura o número 178, o menino Luís Henrique Braço-Forte, neto da famosa Tia Zulmira, parteira auto-didata que ajudou a nascer várias gerações de pinhalnovenses.

A sessão foi presidida pelo Comandante Sr. Manuel dos Santos, secretariado pelo Sr. Manuel Agostinho, Vereador da Câmara Municipal de Palmela e pelo Sr. Oliveira da Direção dos Voluntários de Setúbal e assistida por muito povo.

Usaram da palavra o Dr. Victor Portugal da Silveira, o Capitão Cassar da Liga dos Bombeiros de Portugal, o pároco da Freguesia padre Jacinto Gonçalves Pedro e o Presidente da Direção António da Cruz Moreira.

Depois da sessão solene foram feitos no largo fronteiro à Sociedade Filarmónica União Agrícola, exercícios de manobras pelos Voluntários de Pinhal Novo, sob a Direção do Sub-Chefe Fonseca.

De 29 de dezembro de 1952 a 18 de março de 1966, António da Cruz Moreira preside a um elenco diretivo que apenas sofreu alterações nos anos de 1962 e 1963. Mas nessa altura a sua carreira à frente dos Bombeiros de Pinhal Novo estava irremediavelmente condenada. De facto, desde a tomada de posse da gerência de 1963 em 26 de maio desse ano, até à eleição de Álvaro Tavares como presidente da Direção em 18 de março de 1966, a vida da Associação entrou em crise, não se tendo realizado qualquer Assembleia Geral, nem tendo sido lavrada qualquer ata da Direção.

Um grande vendaval iria abalar os Bombeiros de Pinhal Novo e a localidade iria participar empolgadamente no desenrolar dos acontecimentos que iriam culminar com a demissão do Comandante José da Costa Xavier, a seu pedido e com a intervenção pessoal do Governador Civil de Setúbal.

A gerência de António da Cruz Moreira começaria com o afastamento do comandante Joaquim Francisco Baptista e a indigitação em 12 de fevereiro de 1954 de José da Costa Xavier como novo comandante. Samuel Lupi dos Santos Jorge tinha sido nomeado sócio benemérito em 1952. Em 5 de janeiro de 1954, na mesma Assembleia que, muito a custo haveria de nomear Joaquim Baptista comandante honorário, seria a vez de ganharem o título de sócios beneméritos, Dª Maria Cândida dos Santos Jorge e o Dr. Ferreira Lopes.

O Presidente da Câmara Municipal de Palmela, Álvaro de Carvalho Cardoso, seria nomeado honorário em Assembleia Geral de 15 de março de 1957 e seria objeto de uma manifestação de agradecimento, longamente preparada e que levaria a Palmela em 23 de junho de 1957 todas as viaturas da Associação, além de viaturas particulares e muito povo. Tratava-se, então de agradecer a cedência pela Câmara Municipal de Palmela de 1600 m2 de terreno no Bairro Santos Jorge, para a construção do futuro quartel Sede.

É ainda na gerência de António da Cruz Moreira que se inaugura o 1º televisor dos Bombeiros em 1 de setembro de 1958, e que a Associação se transfere da Rua Infante D. Henrique, para a que é hoje a Avenida da Liberdade, nº 1 e isso teria ocorrido no dia 1 de março de 1958.

Em 18 de agosto de 1956 «… por iniciativa do Corpo Ativo» – Dizem as atas – «foi descerrada a fotografia do Exmo Sr. Comandante José da Costa Xavier (…) o que testemunha o grande apreço e admiração que tem por ele.»

Outro episódio curioso foi o grande sorteio realizado em 8 de maio de 1957, cumpridas todas as formalidades legais e com a presença do regedor António C. Batista. Tratava-se de angariar verbas com vista à construção do novo quartel. Mas o resultado não correspondeu às expectativas…

Diz-se nas atas que: «… o país se encontra cheiro de rifas e sorteios de toda a espécie» e que isso «… motivou a dificuldade na venda dos bilhetes emitidos.»

Em 25 de fevereiro de 1957 foi apreendido o automóvel Opel do ex-Ajudante de Comando Martinho Pita Maurício, como penhor de uma dívida de 3.300$00. Esse carro acabou por ser comprado ao devedor dos bombeiros, tendo sido deduzida a dívida e tornou-se o primeiro «carro do Camando».

Em 20 de setembro de 1961 o 1º Secretário da Direção Manuel Joaquim Reis Azougado, abandona o seu lugar sendo substituído por Manuel Domingos Fialho, cujo trabalho na Associação já havia merecido um louvor em 6 de dezembro de 1958. Na Assembleia Geral de 30 de março de 1962, para apresentação de contas do ano anterior, o Conselho Fiscal não comparece. No ano seguinte, só em 24 de março é possível realizar a Assembleia para apresentação de contas e eleição de novos Corpos Gerentes. Na nova gerência eleita, o comandante José da Costa Xavier torna-se também membro da Direção. Estes foram os principais sinais de uma crise que haveria de desencadear, com se disse já, um tremendo vendaval sobre o Pinhal Novo e os seus Bombeiros Voluntários.

Álvaro Tavares sucederia a António da Cruz Moreira à frente da Direção dos Bombeiros. Mas só em 1969 as coisas viriam a entrar nos eixos. Álvaro Tavares transmitiu o testemunho a Manuel Veríssimo da Silva, conhecendo então os Bombeiros um tempo de grande desenvolvimento e prestígio.

Foi, por assim dizer, o segundo nascimento dos Voluntários de Pinhal Novo.

Aníbal de Sousa