Fundação

Capa do livro “O princípio da história”, editado no 50º Aniversário

No dia 1 de maio de 1951, uma Comissão Fundadora constituída por Álvaro José da Costa Tavares, Francisco Joaquim Batista e José da Costa Xavier, assinava os Estatutos da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Pinhal Novo, que haveriam de ser aprovados por alvará de 16 de fevereiro de l952 pelo Governo Civil de Setúbal.

Em 3l de janeiro de 1952, numa Assembleia Geral da Sociedade Filarmónica União Agrícola, Francisco Joaquim Batista proporia que aquela coletividade fosse considerada como fundadora dos Bombeiros Voluntários.

Essa proposta não seria aprovada, ante a argumentação de contra-senso apresentada por João Augusto Baltazar Parreira. Mas o que é certo é que ela define, por assim dizer, a verdadeira origem dos Bombeiros Voluntários de Pinhal Novo.

De facto, em 15 de abril de l950 seria aprovado na Sociedade Filarmónica, um contrato para a “Montagem da aparelhagem do cinema sonoro” com Ivone Martins da Cruz. Nessa discussão tiveram papel de destaque Manuel Cravinho, que haveria de vir a ser 2º Secretário da 1ª Direção dos Bombeiros e Álvaro Tavares, que seria o 1º Presidente da Assembleia Geral desta corporação.

Francisco Joaquim Batista (o “Batista das Metralhadoras”) veria ainda reprovada uma outra proposta apresentada numa Assembleia Geral da Sociedade Filarmónica União Agrícola. Foi em 28 de dezembro de 1951 e pretendia ele que aquela coletividade estabelecesse uma quotização mensal para os Bombeiros, alegando que, com a sua fundação, a Sociedade passava a economizar entre três a quatro mil escudos anuais. Até então os bombeiros de assistência às sessões de cinema vinham de fora, normalmente de Palmela, o que, além de representar um pesado encargo, feria o orgulho dos caramelos.

Nessa discussão, Francisco Batista seria vencido pela argumentação de António Brinca Borralho.

Recorde-se ainda que, em 30 de abril de 1950 se realizavam em Pinhal Novo grandes festas a propósito da inauguração do Edifício Escolar, do Posto da GNR e do Mercado Agrícola. O Pinhal Novo tinha já quase tudo. Faltava-lhe uma corporação de Bombeiros. A 1ª Direção dos Bombeiros de Pinhal Novo tomaria posse no dia 1 de Janeiro de 1953. A eleição tinha decorrido em 29 de dezembro do ano anterior, numa Assembleia Geral onde compareceram 28 Pessoas. A Direção era presidida por António da Cruz Moreira e incluía os nomes de António Francisco Guerreiro, Francisco Pimentel, Manuel Modesto Cravinho, António Cardoso, Augusto dos Santos e Francisco Mendes Cristina. Na Assembleia Geral pontificava Álvaro Tavares, seguido por José Alexandre Serrão Mora, Celestino Moreira e João Tavares. O Presidente do Conselho Fiscal era Joaquim Amador que, nesse órgão, era acompanhado por Matias Veríssimo e João Eduardo Amorim.

Essa primeira Assembleia de 29 de dezembro de 1952 começaria por aprovar por unanimidade uma proposta de Álvaro Tavares para nomeação de Samuel Lupi dos Santos Jorge como Sócio benemérito da corporação. O primeiro comandante do Corpo Ativo, Francisco Joaquim Baptista, apresentaria nessa altura um relatório exaustivo da atuação do Comissão Fundadora. Dizia ele que «… a sociedade moderna com o seu constante aumento de população, carece que se constituam e se organizem Associações de carácter providencial e de benemerência.» E acrescentava: « – A nossa terra que prossegue no caminho do progresso e com uma população que ascende já a nove mil habitantes, tinha incontestavelmente necessidade de uma corporação de Bombeiros Voluntários.»

Dizia ainda Francisco Joaquim Baptista: «- Com a criação de um corpo de Bombeiros o Pinhal Novo, ficou praticamente defendido de qualquer emergência. Além disso, ficamos livres das maçadas e despesas, sempre que fosse necessário requisitar Bombeiros a outras localidades, visto que as leis do nosso país não consentem que se realizem certas diversões sem a comparência dos Bombeiros.»

E assim se pode, de facto, resumir o conjunto das motivações que levaram ao grande esforço que então representou a criação dos Bombeiros Voluntários de Pinhal Novo.

O primeiro quartel funcionou num armazém do Comandante Baptista, na R. Vasco da Gama, nº 2. Passou posteriormente, durante alguns meses para um barracão que dava para a estrada nacional, ou Rua Gago Coutinho e Sacadura Cabral à entrada do Pinhal Novo, como quem vem de Palmela. Durante muitos anos os Bombeiros tiveram um belo quartel na R. Infante D. Henrique, nº 78 (1).

Finalmente e antes de poderem construir o atual quartel, os Bombeiros habitaram o nº 1 da que é hoje a Avenida da Liberdade.

Em 5 de Janeiro de 1954, Joaquim Leitão apresentou à Assembleia Geral uma proposta que dizia o seguinte: «Atendendo a que a fundação desta Associação se deve ao Exmo. Senhor Francisco Joaquim Baptista, Ex-Comandante do Corpo de Bombeiros, proponho à digníssima Assembleia o seguinte: 1º – Que o Francisco Baptista, pelos serviços prestados à comunidade pinhalnovense, seja nomeado comandante honorário desta corporação; 2º – que lhe seja também oferecido o uniforme que usava quando exercia funções de comandante.»

O Pinhal Novo não era ingrato, mas o indomável «Baptista das Metralhadoras» tinha caído em desgraça. Porquê? Não se sabe ao certo. O certo é que a proposta de Joaquim Leitão dificilmente foi posta à votação e recolheu 39 votos favoráveis, 20 votos contra e 5 abstenções.

Hoje o nome de Francisco Baptista identifica uma rua de Pinhal Novo. E o incontestável Fundador dos Bombeiros de Pinhal Novo, pôde, ainda em vida, mas depois de 25 de Abril de 1974, receber as homenagens dos pinhalnovenses.

Nota 1 – Diversos testemunhos avulsos dizem-nos que foi no Salão da Rua Infante D. Henrique, nº 78 que muitos pinhalnovenses puderam ver televisão pela 1ª vez. Nos registos dos Bombeiros, porém, diz-se que a mudança para o quartel da atual Avenida da Liberdade, nº 1 ocorreu em 1/3/58 e que o televisor teria sido comprado em 1/9/58. A confirmarem-se estas datas, pode ainda ter acontecido que a antiga sede tenha sido utilizada em simultâneo, dada a popularidade de que então disfrutava a televisão.

Aníbal de Sousa