O defunto, a viúva, a filha e o cão delas

Como não há duas sem três, depois da fanfarra a abrir o corso e de uma bombeira como rainha do Carnaval, foi um elemento da corporação pinhalnovense quem aqueceu a noite do “Enterro do Bacalhau”.

A noite de “quarta-feira de cinzas” estava fria, em Pinhal Novo. À volta do coreto do Largo José Maria dos Santos, uma pequena multidão já desesperava pelo início do “Enterro do Bacalhau”, a tradicional cerimónia promovida pelo Grupo Carnavalesco “Amigos de Baco” para “enterrar” as festividades do Carnaval.

Primeiro, o choro. Ainda mal se avistava o cortejo fúnebre, que percorreu algumas ruas da vila à luz de tochas, e já soavam os gritos da “viúva”. Coberta de negro, foi mais uma vez interpretada pelo mais popular ex-GNR de Pinhal Novo, cuja imagem de marca é um farto bigode grisalho. Nos braços trazia o retrato emoldurado do seu saudoso cachorro (uma paródia ao caso do cão sepultado em frente à igreja de Pinhal Novo).

Ao seu lado, a ajudar à choradeira, no papel da pobre órfã, um bombeiro pinhalnovense, quem haveria de dizer? Cabeleira aos caracóis com madeixas, saias largas fáceis de erguer para revelar quase tudo por baixo, e foi vê-lo brilhar em cima de um espaço tão nobre como o coreto da vila. “Tó-Zé” arrancou boas gargalhadas da assistência, aqueceu a noite e, nitidamente, divertiu-se a valer. Para quem lida, quase sempre, com a vida das pessoas – ele é um dos técnicos de emergência médica do corpo de bombeiros de Pinhal Novo – devem ter sabido bem aqueles minutos de desbunda. E terá valido a pena a rouquidão do dia seguinte.

O testamento propriamente dito, com que o Entrudo costuma presentear alguns ilustres da terra antes de ser incinerado em público, ficou para segundo plano. Entre os contemplados estava o presidente da Junta de Freguesia de Pinhal Novo que, como é seu hábito, primou pela presença entre a assistência para ouvir in loco uma alusão aos seus “longos discursos”.

Foi o Carnaval. Ninguém deve ter levado a mal.

Fonte: Helena Rodrigues (texto e fotos)

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