Decorreu, na semana de 9 a 13 de abril, no Centro de Formação de S. João da Madeira da Escola Nacional de Bombeiros (ENB), o módulo de Práticas de Combate a Incêndios que culminou o Curso Geral de Quadros de Comando iniciado em fevereiro de 2007, no qual participou o Comandante dos Bombeiros Voluntários de Pinhal Novo.
A formação na área dos incêndios urbanos vem preconizando novos métodos de combate e uma reorganização do teatro de operações. Aquele que foi o 10º Curso de Práticas de Combate a Incêndios para Quadros de Comando, de cariz essencialmente técnico-prático, beneficiou das condições de simulação pedagógica existentes no pólo de S. João da Madeira da ENB.
Os representantes de dezasseis corporações de todo o país confrontaram-se, assim, com a dureza das condições em que os bombeiros podem ter de fazer ações de busca e salvamento, em espaços confinados. Os formandos puderam aplicar as técnicas de combate a incêndios urbanos, em edifícios de 4 pisos e em contentores confinados, camiões cisterna e caves subterrâneas, sob temperaturas que podiam chegar aos 300 graus.
Formação preconiza nova abordagem técnica e organizativa
Conforme explica o Comandante dos BVPN, as tarefas realizadas passaram por combater e extinguir incêndios, fazer busca e salvamento (neste caso, de um manequim com 90 quilos de peso) e controlar o fator tempo, quer o tempo de execução, quer o de preparação. No que respeita à preparação, é cronometrado o tempo que o bombeiro leva a vestir e montar o equipamento de proteção adequado: capacete com viseira, cogula, luvas, botas, casaco, calças de proteção e aparelho de proteção respiratória (ARICA). «Entre equipar, montar ARICA’s e estar pronto para entrar no edifício, começámos por gastar 7 minutos e terminámos em 2,5 minutos», conta Fernando Pestana.
Mas, para o Comandante, o mais interessante, na formação recebida, foi uma nova abordagem técnica ao combate aos incêndios urbanos, que defende o recurso a menos quantidade de água (para reduzir os danos resultantes do encharcamento, inclusivamente sobre o estado de saúde das vítimas). «Para o ataque ao fogo, foram recomendadas agulhetas e mangueiras com 25 mm de diâmetro, que não é o que estávamos habituados a utilizar», refere Fernando Pestana.
A formação ministrada preconizou ainda uma reformulação geral de toda a organização e disposição dos meios de socorro – humanos e materiais – no “teatro” das operações. Siglas como «HS» (o «Homem da Segurança», que fiscaliza todos os equipamentos de proteção individual antes dos operacionais entrarem no edifício) e «MLA» (o bombeiro que controla o Movimento das Linhas de Água na porta de acesso), ou a distinção entre «Zonas Quentes» e «Zonas Frias» ou «Zona de Evacuação» e «Zona de Controle» são alguns dos termos que integram o vocabulário do comando operacional, no combate a incêndios urbanos e industriais.
Sendo esta formação, à partida, direcionada para elementos de Comando que não provieram do Quadro Ativo das corporações, a pergunta seria inevitável. «Sente-se mais bombeiro?», pergunta-se ao Comandante. «Sim, sim… Tanto na liderança, como na execução técnica. E estou cheio de vontade de transmitir os conhecimentos que adquiri», responde, admitindo que a componente prática da formação foi muito exigente, especialmente pelo controlo do fator tempo e pelo esforço físico. «Foi duro, foi, foi…», diz Fernando Pestana (56 anos, Comandante do CBVPN desde 1989).
É muito importante dominar a vertente técnica nos bombeiros, mas não chega…
A mais-valia que este curso representa, para quem tem de desempenhar funções de Comando num Corpo de Bombeiros, é confirmada por João Faria, outro dos formandos da ação. Para o Comandante – há três anos – dos Bombeiros Voluntários Famalicenses, as conquistas são evidentes e vão desde a noção de organização do teatro de operações à perceção da gestão de homens e equipamentos – «o cuidado de não deixarmos ninguém no teatro de operações sem ter uma missão concreta confiada», enuncia –, passando pela própria «perceção do desgaste que o pessoal sofre». «Temos necessidade de estar permanentemente atualizados… a forma como encaramos hoje a problemática dos incêndios urbanos é muito diferente da que tínhamos», diz.
João Faria – advogado de profissão – reconhece que a importância deste curso não foi igual para todos os participantes, dada a heterogeneidade do percurso de cada um nos Bombeiros, mas, no seu caso, admite que também saiu de S. João da Madeira «mais bombeiro»: «Se calhar, nem me aperceberia desse facto se não tivesse feito o curso… Mas sinto-me muito mais confortável neste papel e até mais capaz de falar o código dos bombeiros, o que torna todas as coisas mais inteligíveis, mais compreensíveis». João Faria sublinha, contudo, que «o primeiro passo consiste em, mentalmente, nos sentirmos “homens da farda”» e que «já dei esse passo no dia em que aceitei comandar o meu Corpo de Bombeiros».
Para além da componente técnica da formação – «é evidente que é muito importante dominar a vertente técnica nos bombeiros, mas ser um bom técnico não é, necessariamente, sinónimo de ser um bom Comandante», defende –, o Comandante dos Famalicenses enaltece o enriquecimento pessoal obtido: «O grupo de formandos foi de uma enorme camaradagem e enorme espírito de grupo, sinto-me extremamente gratificado com os momentos que vivi e com as pessoas que conheci. No fundo, é isto que deve caracterizar a vida nos Corpos de Bombeiros». E acrescenta: «Percebi, por exemplo, que a escassez de meios ou a dificuldade não devem constituir motivo de discussão e de divisão».
João Faria testemunha, enfim, o apreço pela ENB: «Também é gratificante verificar que existe uma estrutura, a Escola Nacional de Bombeiros, com capacidade para prestar este serviço ao país».
Plano formativo em execução desde janeiro
A formação de quadros de Comando iniciou-se em 24 de fevereiro e prolongou-se, aos fins-de-semana, no Centro de Formação de Sintra da ENB, até 24 de março, antes da estadia em S. João da Madeira. Durante aquele período, dezasseis elementos de outras tantas corporações de bombeiros – Municipais de Faro e do Cartaxo, Profissionais Toyota Caetano e Voluntários de Amarante, Caminha, Faro (de onde era originária a única mulher do grupo de formandos), Favaios, Fontes, Izeda, Lagos, Penamacor, Pinhal Novo, Sanfins do Douro, Valadares, Vila Pouca de Aguiar e B.V. Famalicenses – frequentaram os módulos de Organização e Liderança e de Gestão Operacional.
No primeiro módulo, entre outras matérias, foram abordadas as normas legais que regulam o sector dos bombeiros e proteção civil e as questões levantadas pelo relacionamento com a Comunicação Social. No segundo, a formação incidiu sobre o Sistema de Comando Operacional e a gestão operacional aplicada aos vários cenários de intervenção: formaturas, incêndios florestais, incêndios urbanos, busca e salvamento, ventilação tática e matérias perigosas.
Refira-se que, na semana de 15 a 19 de janeiro deste ano, a ENB já promovera um Curso de Organização de Postos de Comando, em Sintra, dirigido a todas as corporações de bombeiros do distrito de Setúbal, no qual também participou o Comandante dos Bombeiros Voluntários de Pinhal Novo.
Fonte: Helena Rodrigues (texto); Fernando Pestana (foto)