As comemorações do 55º aniversário da AHBVPN, no passado dia 1 de maio, tiveram menos pompa e circunstância, mas mostraram uns Bombeiros menos fechados sobre si mesmos.
Este ano, a Associação recebeu a igreja no seu salão (Ver Galeria de Fotos) e saiu do quartel para ir almoçar em casa da Associação de Reformados de Pinhal Novo, numa afirmação institucional dos Bombeiros como «parceiros ativos da comunidade». No programa do aniversário – em que se optou por não haver sessão solene, nem discursos oficiais, nem as habituais dezenas de convidados –, nem só a evocação do Comandante Baptista, primeiro comandante e um dos fundadores da corporação, apelou à memória do passado.
Logo pela manhã, depois da alvorada com toque da sirene e do hastear das bandeiras no quartel-sede, com formatura geral, a habitual romagem ao cemitério velho da vila foi também acompanhada de uma ida ao cemitério novo («Porque há bombeiros nos dois cemitérios», (Ver Galeria de Fotos) justificou a presidente da Direção), para colocação de coroas de flores em memória dos sócios e bombeiros falecidos; recorde-se que o ano de 2006 começou, para os BVPN, com a despedida de um dos seus elementos, que agora pôde ser recordado – Ler Notícia.
Aurora Serrão assumiu, em nome da Direção a que preside desde março deste ano, que os tempos são de contenção financeira e que a opção foi por tornar a comemoração do aniversário um evento de âmbito interno, «mais voltado para dentro». Para a decisão de suprimir do programa a habitual sessão solene, pesou também a ausência anunciada de Ana Teresa Vicente, presidente da Câmara Municipal de Palmela, por se encontrar em deslocação oficial a Cabo Verde.
Primeiro estranha-se, mas depois…
A maior novidade do programa deste ano foi a celebração, pelas 11 horas, de uma missa comemorativa do aniversário da Associação, que trouxe ao salão do quartel – onde foi instalado o altar – muitos populares. E se, para os menos católicos, a primeira reação por ver o salão transformado em local de culto terá sido de alguma estranheza, esta tendeu a dissipar-se quando soaram os cânticos religiosos, a cargo do coro da igreja de Pinhal Novo. Ao vivo, a música sacra preencheu em pleno a grande sala de festas dos Bombeiros. Houve quem confessasse que já não assistia a uma missa há uns 20 anos (e gostou); houve quem estivesse tentado a, pela primeira vez na vida, ir tomar a hóstia, aproveitando a bênção do padroeiro dos bombeiros (E seja o que Deus quiser)…
«A paróquia de Pinhal Novo disponibilizou-se, desde a primeira hora, para colaborar com os Bombeiros, e pensámos que a melhor maneira de aproximar as duas instituições seria realizar uma missa dentro da Associação», explica Aurora Serrão. Corolário desta aproximação poderá até ser a integração do pároco de Pinhal Novo no Quadro de Especialistas e Auxiliares, como capelão da corporação.
Depois da celebração da missa, ainda coube ao Padre Ramalho a bênção do novo VETA (Veículo com Equipamento Técnico de Apoio) da corporação, uma viatura recuperada graças ao empenho e boa vontade dos próprios bombeiros – Ler Notícia.
Pela primeira vez, o almoço-convívio que se seguiu, em ambiente familiar e informal (ver fotos dos momentos de descontração nos Apanhados), teve lugar na sede da Associação de Reformados, Pensionistas e Idosos de Pinhal Novo, o que também foi entendido como uma estratégia de aproximação dos Bombeiros aos seus parceiros da comunidade. De imediato, os aniversariantes beneficiaram de poder contar com a cozinha daquela instituição para a preparação do almoço (para além do apoio das familiares dos bombeiros que colaboraram na confeção e das empresas e estabelecimentos comerciais que, como em anos anteriores, ofereceram géneros alimentares).
Mas a intenção da Direção é que este seja apenas o início de uma parceria alargada com a Associação de Reformados. «Ninguém trabalha isolado e queremos que esta seja uma parceria ativa, queremos que os Bombeiros sejam parceiros ativos da comunidade», defende a presidente da Direção dos BVPN.
Aniversário evoca fundador
Na Assembleia Geral de 11 de março de 1980, ao ser aprovado um voto de pesar e guardado um minuto de silêncio pelo falecimento de Francisco Joaquim Baptista, este foi evocado como «fundador, Comandante Honorário desta Associação e seu mais dedicado colaborador». No arquivo fotográfico da instituição, há, depois, registo de uma delegação ter assinalado o aniversário da sua morte prestando-lhe homenagem no cemitério onde foi sepultado, em Estremoz. Foi esta romagem que se repetiu este ano, mas, desta vez, na tarde de 1 de maio de 2006, para assinalar a passagem de 55 anos após o nascimento dos Bombeiros Voluntários de Pinhal Novo, de que o seu primeiro comandante (de 21-09-1951 a 08-11-1953) foi o principal obreiro – Ler Testemunho e sobre o nascimento dos BVPN. Até o primeiro quartel dos BVPN funcionou numa garagem do Comandante, na rua Vasco da Gama – Ver Foto.
Mas também em vida a Associação soube homenagear o seu fundador, apesar de, já então, não ter havido unanimidade. A Assembleia Geral de 5 de Janeiro de 1954 decidiu (com 39 votos favoráveis, 20 contrários e 5 abstenções) atribuir-lhe o título de Comandante Honorário, sendo-lhe oferecido o fardamento que usava quando em funções, desde o ano de fundação da Associação (1951) até 1953.
Vinte anos depois de ter deixado o cargo, no dia 25 de julho de 1973, Francisco Joaquim Baptista receberia na sua residência, em Estremoz, a visita de uma delegação da Direção da altura, que aí se deslocou numa nova ambulância adquirida pela Associação, com o propósito de a apresentar ao Comandante Honorário. Assinale-se ainda que, na ata da primeira Assembleia Geral realizada no atual quartel-sede, em março de 1979, ficou registado que Francisco Joaquim Baptista assistiu à sessão.
Reunião geral interna nas vésperas do aniversário
A apresentação do programa comemorativo dos 55 anos da Associação constituiu um dos pontos da ordem de trabalhos da reunião geral, para que se encontravam convocados todos os elementos do Corpo de Bombeiros, que teve lugar na noite de sexta-feira, 28 de abril, no auditório do quartel. A reunião serviu também para apresentação dos novos corpos gerentes e das linhas de orientação para a gestão da Associação no corrente mandato.
«Toda a gente me conhece, mas quero explicar às pessoas o que cada elemento da Direcção está a fazer, na sua área», prometia a presidente, prevendo antecipar, nessa reunião, algumas informações e decisões em matéria financeira.
A esperança da presidente era, todavia, que a reunião servisse para todos se poderem ouvir uns aos outros. «Tenho passado aqui muitas horas, tenho ouvido toda a gente e tenho reparado que as pessoas têm necessidade de falar», desabafa Aurora Serrão. Por isso, fez questão que o encontro tivesse lugar antes de 1 de maio, «para toda a gente vir de corpo e alma para o aniversário». «O aniversário é deles [dos bombeiros] e não meu, embora eu me sinta uma bombeira sem farda», dizia a Profª. Aurora, renovando um desejo já antes expresso, quando ainda não era a Senhora Presidente dos Bombeiros: «O que eu gostava muito é que toda a gente remasse para o mesmo lado…».
Fonte: Helena Rodrigues (Textos); Joaquim Castro (Foto)


