No quartel de bombeiros, no 25 de Abril

Se perguntarmos aos pinhalnovenses, em especial aos ligados ao movimento associativo da freguesia, «onde é que você estava no 25 de Abril… de 2006?», muitos responderão: «Em frente ao quartel dos bombeiros».

Como já é tradição, em Pinhal Novo, representantes do movimento associativo reuniram-se, na tarde soalheira do feriado de abril, em frente às sedes dos Bombeiros Voluntários e da Junta de Freguesia de Pinhal Novo, onde receberam e distribuíram cravos vermelhos, e daí desfilaram pela Avenida da Liberdade até ao Largo José Maria dos Santos, no coração da vila. O desfile comemorativo do 25 de Abril foi encabeçado pela fanfarra da corporação, com o estandarte transportado pelo bombeiro Rui Jorge Silva, e integrou os principais responsáveis políticos do concelho e da freguesia, incluindo a presidente da Câmara Municipal de Palmela, Ana Teresa Vicente.

Pela primeira vez, nos últimos anos, o aniversário da Revolução de Abril foi também evocado dentro do quartel, através da apresentação, no auditório, da peça “Dar uma no Cravo”, pelo Grupo de Jovens do Centro Comunitário de S. Pedro, da Caritas Diocesana de Setúbal. Foi uma apresentação multimédia – com a particularidade das condições técnicas no auditório, especialmente a nível de som, terem sido asseguradas por um jovem elemento do Corpo de Bombeiros* –, em que, a palavras sobre a liberdade proferidas em palco, se juntaram uma forte banda sonora e a projeção de vídeos, textos e imagens históricas sobre a Revolução.

A apresentação terminou com o filme da visita de um grupo de jovens à cadeia de Peniche, que albergou vários presos políticos durante o Estado Novo, agora transformada em museu. E, claro, com a “Grândola Vila Morena”, de José Afonso.

Uma responsável pelo grupo de jovens atores explicou, depois, que o Centro Comunitário de S. Pedro desenvolve, nas localidades de Lagameças e Cajados, um trabalho, no terreno, com crianças do 1º Ciclo e jovens, e de apoio às suas famílias, sob o lema de “aprender para crescer”. O espetáculo trazido à Associação foi criado há dois anos, para o projeto “Março a Partir” e, pelo seu conteúdo histórico, mantém-se atual. «Muitos de vocês ainda não estavam cá no 25 de Abril», disse a representante da Caritas, para a muito jovem assistência, explicando que o objetivo da apresentação foi lembrar e sensibilizar os mais jovens para o 25 de Abril de 1974.

E você, onde é que estava no 25 de Abril?

A pergunta, lançada de chofre a José Joaquim Serrão, combatente na Guerra Colonial, tem uma resposta que mostra bem como a história portuguesa contemporânea está ainda por fazer. «Estava na Guiné, mais precisamente em Farim, e só soubemos do 25 de Abril no dia 26 à noite, foi quando soubemos que tinha havido um golpe militar em Portugal, através de um africano que ouviu a notícia na rádio da Guiné Conacri», conta o Segundo Secretário da Direção dos BVPN.

José Serrão fazia parte, há quase dois anos, de uma companhia chamada “Caçadores Africanos 14”, «mais conhecida por Baga-Baga», que tinha sido formada pelo general Spínola e era constituída por pelotões (seis) de africanos que integravam o exército português.

«No dia 28 de abril, ainda tivemos recontros com os guerrilheiros. Depois, resolvemos estabelecer contactos e marcámos um encontro na mata para entrar em conversações com o PAIGC [a organização política que combatia pela independência da Guiné e Cabo Verde]», recorda José Serrão. E acrescenta: «É bom que se diga que eu não me senti vencido na guerra, nem os meus companheiros. O que nós queríamos era pôr fim àquela situação. E penso que era também este o sentimento da outra parte».

Dessa experiência, para além das memórias do abandono da “sua” tropa por Portugal, da violência e da «confusão tremenda e desorganização completa», ficou-lhe uma “imagem de marca” que ainda o persegue. Conta, entre risos: «Foi lá que comecei a fumar cachimbo. Eles eram muçulmanos, fumavam cachimbo e bebiam Fanta e Coca-Cola, bebidas que ainda não tinham chegado a Portugal e que até era proibido trazer para cá. Também fumavam e mascavam castanha de cola e era isso que explicava que fizessem aquelas caminhadas no mato completamente frescos, enquanto nós vínhamos de rastos…».
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*A Direção da AHBVPN apresenta um agradecimento especial ao bombeiro Artur Barreira, pelo apoio técnico prestado à peça de teatro.

Fonte: Helena Rodrigues (Reportagem)

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