Arrábida já perdeu 30 a 40% do parque natural, num país em chamas

Depois de chegar a ser dado como extinto, o incêndio de domingo na Serra da Arrábida reacendeu-se ontem, mas está agora considerado circunscrito. O ministro da Administração Interna já reconheceu que, desde domingo, o número de fogos “disparou” em Portugal. As imagens do desespero na luta contra as chamas voltaram a abrir os telejornais.

O incêndio na Serra da Arrábida foi considerado circunscrito esta manhã, mas era ainda, dos vários fogos que têm assolado o país desde domingo, o que mantinha mais meios no terreno: cerca de 200 bombeiros, 59 veículos e um meio aéreo. O fogo entrou em fase de rescaldo, mas mantendo alguns focos ativos no alto da serra e no Vale da Rasca. O coordenador distrital de bombeiros, Alcino Marques, reconheceu o perigo de se perder o controlo do incêndio devido à intensidade do vento e à previsível subida de temperatura nas próximas horas.

«Estamos a abrir caminhos com moto serras para que os nossos homens possam instalar algumas linhas de água no alto da serra que permitam um combate à chamas mais eficaz», disse o coordenador distrital de bombeiros. «O Vale da Rasca, onde se verificou mais um reacendimento durante a noite, é outro ponto crítico devido à proximidade de dezenas de habitações», acrescentou Alcino Marques, garantindo, no entanto, que está montado um dispositivo de segurança para salvaguarda de pessoas e bens.

«Não tinha pernas para fugir»

Em Pinhal Novo, muita gente testemunhou o pânico sentido no domingo, quando as praias da Arrábida tiveram de ser evacuadas devido à ameaça das chamas. «Não fugi porque não tinha pernas para fugir. Nunca vi nada assim!», desabafava uma pinhalnovense, num café da vila. Pelo segundo dia consecutivo, as praias da Figueirinha, Galapos e Arrábida voltaram ontem a ser evacuadas devido à propagação do incêndio à encosta sul da serra.

Por parte da proteção civil municipal e do Presidente da Câmara Municipal de Setúbal, ouviram-se críticas ao facto do avião Canadair de combate a incêndios, que tinha sido chamado às 14:00 h, só ter começado a operar na Serra da Arrábida às 17:00. «Num sítio destes, o ataque devia ser feito em força, com muitos meios aéreos. Desde domingo. Só assim se evitava tudo isto», desabafava Carlos Sousa, no local. Três helicópteros ligeiros que, durante a manhã de ontem, tinham sido disponibilizados para o incêndio, acabaram, entretanto, por ser mobilizados para outros fogos.

A inexistência de meios aéreos no combate ao incêndio da Arrábida preocupou também a administração da cimenteira Secil, que ontem colocou dezenas de trabalhadores a combater as chamas, para impedir que o fogo se propagasse ao interior do perímetro da fábrica.

O incêndio da Serra da Arrábida teve início às 13.45 h de domingo, na Herdade do Arneiro, e percorreu cerca de três quilómetros no espaço de uma hora, devido às condições climatéricas e ao tipo de vegetação. Até ao momento, já ardeu cerca de 30 a 40% do Parque Natural da Arrábida, o que é unanimemente considerado, por responsáveis autárquicos e organizações ambientais, uma perda irreparável e um desastre para a região.

Ministro diz que «número de fogos quadruplicou» e pede ajuda internacional

O ministro da Administração Interna já reconheceu que, nos últimos dois dias, o número de incêndios em Portugal quadruplicou relativamente ao mesmo período de 2003, e admitiu que, face à quantidade de fogos, os meios nunca são suficientes. Daniel Sanches, empossado no cargo há pouco mais de uma semana, teve ontem a sua primeira visita oficial ao deslocar-se ao posto de comando de operações dos bombeiros em Bocal, Mafra.

À noite, o ministro esteve reunido durante cerca de duas horas com responsáveis do Serviço Nacional de Bombeiros e Proteção Civil, em Carnaxide, e falou aos jornalistas, fazendo o ponto da situação do combate aos incêndios e anunciando para hoje a chegada de apoio internacional. Enquanto isso, o Presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses, num debate na SIC Notícias em que também participou o Presidente da Câmara Municipal de Setúbal, acusava o Estado de ainda não ter olhado para o problema do socorro em Portugal, nas suas várias vertentes, como uma prioridade nacional, com consequências negativas sobre o financiamento das corporações de bombeiros e, por isso, sobre os meios humanos e materiais disponíveis para o combate aos incêndios.

Em conformidade com o anúncio do ministro, dois aviões Canadair da Grécia devem aterrar esta tarde na Base Aérea de Beja. Além destes dois, foi também desencadeado um pedido a Espanha e outro a Itália, país que já se tinha disponibilizado para apoiar o combate aos fogos em Portugal com um Canadair. No total, cinco países europeus disponibilizaram-se para ajudar Portugal no combate aos incêndios, oferecendo um total de nove helicópteros e quatro aviões com tanques de água, segundo dados da Comissão Europeia, que está a coordenar o apoio ao país. Além da Grécia, Alemanha (oito helicópteros), Itália (um Canadair), Reino Unido (um avião L188) e Noruega (um helicóptero) foram os países que responderam positivamente ao apelo do Governo português ao Centro de Informação e Monitorização da União Europeia para o envio de meios aéreos pesados. Também a França se disponibilizou, mas apenas a partir de quinta-feira.

De acordo com os números oficiais, oito incêndios florestais estavam, às 14:50 h de hoje, ativos no território continental português e os que absorviam mais meios de combate lavravam nos concelhos de Faro e Almodôvar. Dois bombeiros ficaram hoje feridos no combate a um incêndio que lavra na Serra da Penha, na periferia de Portalegre, onde as chamas já ameaçaram casas, deixando a população em pânico; fonte do Centro Distrital de Operações de Socorro (CDOS) de Portalegre adiantou à Agência Lusa que os dois bombeiros sofreram ferimentos ligeiros, tendo sido transportados para o hospital da cidade.

Fonte: Helena Rodrigues (c/ Lusa e imprensa)

2 Replies to “Arrábida já perdeu 30 a 40% do parque natural, num país em chamas”

  1. Não espero que nada mude. Não espero que se tomem medidas extraordinárias; que se invista na re-florestação; que se crie um programa de reabilitação. Saemos por experiencia que nada vai ser feito.
    Espero apenas que respeitem a serra e a deixem reabilitar sozinha. A Natureza saberá cuidar de sí, depois da incompetencia dos homens a ter deixado ferida.
    A Natureza vai concerteza encontrar soluções, pena é, que o tempo de reabilitação da Serra seja diferente do dos homens, e nós, reduzidos à nossa curta existência, não poderemos voltar a admirar esta extraordinária benção da natureza durante o resto das nossas vidas.

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  2. É de certa forma fustrante assistir a cenas tristes e a erros gravicimos no combate a incendios florestais, é de certa forma triste saber pela comunicação social, pela boca de bombeiros que há falta de meios nos locais e saber pela mesma que existem meios com pessoal totalmente voluntario pronto a sair a qualquer momento, sem olhar á sua vida profissional e familiar, dispostos a ajudarem o proximo e o mais triste, saber que neste país existem governantes de olhos tapados e comandantes sem iniciativa. Pois acredito, se fosse uma herdade de umas destas Personagens, seriam tomadas medidas re-dobradas para que o mesmo não voltasse a acontecer. E enquanto isso, assistimos a um Portugal Verde, ser Consumido pelas Chamas de ano para ano.

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