
Posto: Bombeiro de 3º
Data de nascimento: 02 de março de 64
Profissão: Ferroviário
O BOMBEIRO MAIS ANTIGO DO ATUAL QUADRO ATIVO
DO CORPO DE BOMBEIROS DE PINHAL NOVO
Foi pelo final da manhã do dia 11 de janeiro de 2022 que tive a oportunidade de travar um curto diálogo com o bombeiro mais antigo do atual quadro ativo do Corpo de Bombeiros Voluntários de Pinhal Novo, de seu nome, José Manuel Delgado Nepomuceno.
Conversa essa a fim de conhecer algumas das suas ideias, sobre a forma de estar ao serviço desta Instituição, conjugando-a com a sua vida familiar e profissional e, para prestar apoio a uma população na Vila de Pinhal Novo, hoje com cerca de trinta mil habitantes.
Identificação?
O meu nome é José Manuel Delgado Nepomuceno, tenho 57 anos de idade, exerço a minha profissão na empresa Comboios de Portugal, como assistente administrativo, sou casado com a Susana Silva e temos dois filhos a Ana Sofia e o João Pedro.
Como nasceu a ideia de seres bombeiro voluntário?
A ideia de querer ser bombeiro voluntário, foi por influência do meu vizinho Francisco António Branco, que exercia a profissão de eletricista por conta própria e os seus tempos livres, eram ocupados como bombeiro voluntário na Associação Humanitária dos Bombeiros de Pinhal Novo.
Acontece que eu e o meu irmão trabalhamos para ele como ajudantes para aprender a profissão de eletricista, e os nossos tempos livres eram ocupados na brincadeira com os seus três filhos o João Branco, Luís Branco e o José Branco.
E foi neste permanente contato quer com o pai, assim como com os filhos, que me fui familiarizando com a vida de bombeiro, foi uma ideia por nós partilhada assim que possível tornarmo-nos bombeiros (o meu irmão, o João e o Luis) razão pela qual no ano de 1978, com a inauguração do novo quartel e por sugestão do pai e filhos “Branco” decidi alistar-me também como cadete.
Por na altura ter apenas catorze anos a decisão final esteve sempre pendente da autorização dos meus pais, que depois de muita conversa e muitos concelhos, acabaram por concordar.
Depois de ingressar nos bombeiros onde permaneci como cadete até frequentar e concluir o curso de bombeiro.
Funções que mantenho nesta Instituição há 43 anos e que considero a minha segunda casa.
Neste momento o meu desejo é poder continuar a contribuir para esta nobre causa por muitos mais anos.
Qual foi a forma encontrada para conjugar a vida familiar e profissional, com o tempo disponibilizado como bombeiro voluntário?
Em termos familiares não tem sido fácil articular diariamente os meus tempos livres, com os serviços de bombeiro voluntário, pois esse tempo no voluntariado, fica-nos sempre a fazer falta nos momentos em que poderíamos estar junto dos nossos familiares.
No aspeto profissional, as coisas são um pouco mais flexíveis, pois no caso de termos que nos ausentar, para fora da área de residência, o Estatuto do bombeiro voluntário estipula que sejamos suspensos dos serviços.
Recordo, que quando tinha 20 anos de idade houve necessidade de me deslocar profissionalmente para a região do Algarve, o que me levou a suspender os meus serviços de voluntariado por algum tempo, por se tornar incompatível com a distância, o cumprimento dos meus serviços de escala.
Quero eu dizer com isto, que o fato de me ausentar do Pinhal Novo por algum tempo, não me obrigou implicitamente a pedir a demissão, pois falei com o Comandante na altura, que autorizou a minha suspensão dos serviços por alguns meses, para concluir os meus compromissos profissionais e entrar novamente ao serviço, sem perder a antiguidade no quadro ativo.
No entanto considero que, se uma pessoa estiver a trabalhar relativamente próximo de sua casa, consegue conjugar facilmente a sua vida familiar e prestar o seu apoio ao voluntariado, pois a dificuldade não é muito grande e, é tudo uma questão de conseguir repartir o tempo disponível para ambas as vertentes, familiar e de voluntariado.
Pelo aquilo que sei, já tens descendentes também nos bombeiros?
Sim, é um fato, tanto o meu irmão, como o meu sogro já pertenceram a este Corpo de Bombeiros, assim como a minha esposa. Agora sou eu e os meus filhos, também o meu neto já quer ingressar para grupo de infantes.
Para além dos teus descendentes, conseguiste trazer mais amigos para o serviço do voluntariado?
Houve na realidade dois amigos que os considero ter influenciado para se alistarem, um foi o Victor Félix, mais conhecido pela alcunha do “Fireman” e o José Manuel Ramalho, mas que, por razões das suas vidas particulares acabaram por sair do Corpo de Bombeiros.
Na tua opinião qual a importância dos bombeiros ao serviço da comunidade?
Eu considero que o serviço dos bombeiros é extremamente importante na ajuda de pessoas com problemas graves, na área da saúde, dos incêndios, nos acidentes ou em situações mais gravosas como nas grandes catástrofes.
Não existindo Corporações de Bombeiros nas localidades, tudo se torna mais complicado para as comunidades, atendendo que têm que estar pendentes de meios vindos de outras localidades o que, por vezes, levaria a ser infrutífero o apoio, devido ao atraso pelos tempos de deslocação.
No caso concreto do Pinhal Novo, recordo-me do fundador Comandante Francisco Joaquim Batista, como primeiro impulsionador para a existência da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Pinhal Novo, que na altura considerou muito importante no apoio aos problemas graves da população.
É fato que para além da nossa área de atuação, também acabamos por prestar socorro fora da nossa área, sempre que solicitados.
No final da tua carreira como bombeiro voluntário, como consideras todo este tempo ao serviço do voluntariado?
Na minha opinião pessoal, sinto-me muito orgulhoso pelo tempo que dediquei ao serviço dos bombeiros, embora já me encontre numa fase avançada da minha vida, mas continuarei a dar o meu melhor e fico feliz por contribuir, para ajudar a minimizar o sofrimento e os problemas das pessoas, que necessitem do nosso socorro.
Recordo-me de uma passagem comigo já há muitos anos, quando fazia parte de um grupo de bombeiros em que andávamos a vender rifas para angariação de fundos, para a compra de uma nova ambulância.
A determinada altura dirigimo-nos a um indivíduo que estava nos seus terrenos a tratar da agricultura e que quando questionado para a compra de uma rifa, respondeu que não necessitava dos serviços dos bombeiros, porque os seus filhos tinham carros e se fosse necessário ia com eles para se fazer transportar ao hospital e eventualmente se eles não pudessem, ele tinha uma carroça para se deslocar.
Qual não foi o meu espanto, quando passado algum tempo vejo este senhor vir à Associação agradecer o socorro que os bombeiros lhe prestaram, quando se sentiu mal e a forma como lhe foi prestada assistência até à unidade hospitalar. Assim, e como forma de reconhecimento, entendeu vir oferecer alguns donativos, como recompensa do serviço efetuado.
Eu acabei por tirar algumas conclusões com o caso deste senhor e considero que por vezes as pessoas, não dão o justo valor ao trabalho realizado pelos bombeiros e por vezes esse reconhecimento surge sempre, quando se encontram nas piores situações, na luta pela sua sobrevivência ou dos seus bens.
Em relação ao tempo dedicado ao voluntariado, considero muito importante e vejo com muito bom agrado todo este tempo, e sinto muito orgulho em tudo aquilo que fiz ao serviço da corporação.
Como imaginas a evolução dos Bombeiros voluntários a nível nacional?
Ora eu entendo que no futuro haverá sempre espaço para existirem corpos de bombeiros voluntários, de qualquer modo na minha opinião pessoal, considero haver uma tendência natural de profissionalização destes serviços. Como exemplo, podemos considerar o serviço de saúde em que o Ministério da Saúde já superintende todas as situações mais graves com as ambulâncias do INEM e as respetivas guarnições, devidamente especializadas. Nos casos das primeiras intervenções em acidentes ou incêndios, julgo que vão ficar sobre a alçada da Autoridade Nacional da Proteção Civil, com equipas integradas nas câmaras municipais que também já possuem os Serviços de Proteção Civil e onde poderão ser criadas equipas de bombeiros Municipais ou Sapadores. Contudo como afirmei no início, penso existir sempre espaço para os Bombeiros Mistos ou continuar a haver Corpos de Bombeiros Voluntários.
No entanto, em termos evolutivos a diferença desde que eu sou bombeiro para os dias de hoje, tem-se verificado uma diferença muito grande, tanto nos equipamentos utilizados como no aspeto da formação sistemática exigida e adequada às novas realidades não só nos sinistros, mas em toda a atividade.
Mas considero, que existe sempre espaço, para os Bombeiros Voluntários ao lado dos Profissionais.
Em tua opinião consideras que seria importante no ensino escolar, existir formação na área da segurança?
Sim eu considero que seria uma mais-valia, haver a divulgação na área da segurança no ensino escolar, com conhecimentos de iniciação no socorro como se pratica nos bombeiros, ou que se praticavam antigamente na Cruz Vermelha, em que eram ministrados os primeiros socorros.
Qualquer pessoa que tivesse esses princípios básicos, poderia ser útil a si própria, a um familiar, ou qualquer outra pessoa em situações mais complicadas que possam surgir em qualquer espaço, tanto na via pública, como na sua residência e sempre que lhe surja qualquer incidente onde quer que esteja.
Penso que poderia ser até uma disciplina facultativa e não sujeita a avaliação, para todos os jovens interessados, como acontece em outros países.
Falando em equipamentos como se encontram apetrechados os bombeiros de Pinhal Novo? E se tivesses que sugerir um melhoramento nesta área qual seria a tua sugestão?
Eu considero que os equipamentos que temos atualmente já não são tão rudimentares como eram há vinte anos atrás, mas mesmo assim acabam por ser insuficientes para fazer face a algumas necessidades de socorro na atualidade, e penso eu, também ser muito importante continuar a investir também nesta área e na formação sistemática da utilização dos mesmos para a diversidade dos tipos de ocorrências.
As instalações correspondem às necessidades dos bombeiros? Se não, o que achas, que se poderia fazer no futuro?
Face às instalações que possuímos atualmente nos Bombeiros de Pinhal Novo, eu considero que vão sendo as necessárias, embora se pudesse melhorar algumas situações para melhor funcionalidade.
Contudo penso que a melhor opção no futuro, seria a localização de um novo quartel na periferia da localidade em zona estratégica, com melhor acessibilidade para avançar em situações de emergência.
Reconheço que não é fácil no momento atual mudar de instalações, e, por conseguinte, como afirmei no início a modificação pontual de algumas situações em termos de arquitetura, poderá ser a solução do problema.
Conversa com Fernando Rita Pestana
Secretário da Mesa da Assembleia Geral
Associação Humanitária de Bombeiros de Pinhal Novo

















