A iniciativa e dedicação dos bombeiros está a permitir recuperar o que resta do espólio de material antigo da Associação. A primeira motobomba recuperada já pode ser apreciada à entrada do quartel: está como nova e operacional. Outras estão na lista de espera para uma autêntica operação plástica – Ver mais fotos.
Motobombas que estavam abandonadas começam agora a reluzir, perante os olhares orgulhosos de quem as sente como parte da sua história. «Já viu a motobomba que está à entrada do quartel?», pergunta o bombeiro Tiago Silva, num momento de pausa da rebarbadora com que, na oficina, trata de polir minuciosamente o chupador de latão que integra a peça exposta no átrio do quartel. Trata-se de uma motobomba de origem inglesa, que se encontrava obsoleta e há muitos anos abandonada, e que agora prova que muito do património histórico do Corpo de Bombeiros ainda pode ser recuperado.
Aliás, tudo começou com a recuperação do antigo material de desencarceramento, que deixara de ser usado há quatro anos, com a aquisição do atual veículo de salvamento e desencarceramento. Esse material já está operacional e de reserva para qualquer necessidade. «Era uma coisa que gostávamos de voltar a ver trabalhar – conta Tiago Silva – e, como tivemos sucesso com o material de desencarceramento, voltámo-nos agora para as motobombas».
“Manual” de recuperação de motobombas
Primeiro, foi preciso desmontar a bomba, peça por peça. Explica Vasco Marto, subchefe, outro dos intervenientes nos trabalhos: «Verificou-se que, na cabeça do motor, o piston, as válvulas e os segmentos encontravam-se cheios de ferrugem e corroídos. Teve de ser tudo limpo, peça por peça, e tudo montado com juntas novas». Foi, por assim dizer, a primeira fase dos trabalhos.
A seguir, as atenções dos “operários” viraram-se para o carburador, que foi desmontado e verificado e, depois de limpo, foi montado outra vez. Seguiu-se a terceira fase do trabalho, voltada para a parte elétrica. «Os platinados e o condensador estavam corroídos e tiveram de ser limpos e afinados», explica Vasco Marto. E conclui: «Depois de tudo montado e a funcionar em condições, foi tudo desmontado outra vez para então se lixar todas as peças, pintá-las e envernizar as peças em latão, a que se seguiu a montagem final e retoques finais.»
Foram muitas horas de trabalho, repartidas por vários pares de mãos. Vasco Marto contabilizou uma semana de trabalho, o que coincide, mais ou menos, com as contas de Tiago Silva, encarregue da limpeza das peças. Tiago diz que, para deixar tudo a brilhar, esteve de volta do material «umas 7 tardes, mais ou menos». E está satisfeito com o resultado.
METZ e ASPI – As bombas que se seguem
Entretanto, já desmontada está outra motobomba, uma das mais antigas que existem na Associação (Ver foto). Segundo os bombeiros apuraram, a bomba, da marca Carl Metz (Ver foto), «uma marca alemã de material de bombeiros muito conhecida», já não funcionava quando veio parar à corporação. Muito provavelmente, a motobomba «deverá ser da altura da II Guerra Mundial, quando a Metz teve o seu maior desenvolvimento», consideram os bombeiros. Mas não têm certezas.
Ainda a jazer, cheia de pó, nas prateleiras de material sob o telheiro da parada, está a que os bombeiros asseguram ter sido a primeira motobomba utilizada pelo CB. Esta é da marca italiana Aspi Tamini e foi oferecida à Associação pela congénere dos Caminhos de Ferro Sul e Sueste, do Barreiro. Numa chapa identificadora do batismo, a peça ainda ostenta o nome de Victor Adragão, senhor todo-poderoso da CP no período do Estado Novo.
O germinar de um núcleo museológico
O que começou por ser uma forma de ocupar o tempo está a entusiasmar de tal forma os elementos da corporação, que já se admite que este possa ser o arranque para a criação de um núcleo museológico na Associação.
«Para ter mesmo um museu talvez não tenhamos material suficiente em inventário, teria de se fazer um estudo para ver o que ainda há por aí», reconhece o Subchefe Paulo Pinto, um dos bombeiros que, nas últimas semanas, se lançaram no objetivo de recuperar o património histórico da corporação. Raúl Prazeres, Adjunto de Comando, admite mesmo que «nesta casa nunca tivemos muita vocação para preservar o material antigo». Os bombeiros lembram que, ao longo do tempo, houve várias tentativas de recuperar material inoperacional, mas que «foram desistindo e foram-se perdendo peças».
O certo é que, desta vez, o trabalho está a ser levado muito a sério e tem implicado uma rigorosa pesquisa. Por exemplo, no site da Metz, companhia fundada em 1842, têm-se procurado referências sobre a motobomba que está agora desmontada. «Pedimos a colaboração do Richard [médico que integra o CB, de nacionalidade alemã] para telefonar à empresa, porque precisamos de uma fotografia para ver como era a motobomba e verificar se nos faltam algumas peças», explica Paulo Pinto, para quem nenhum pormenor deve ser descurado: «Já que estamos a recuperar as motobombas, era engraçado pô-las mesmo a trabalhar», conclui.
Fonte: Helena Rodrigues (Texto), com Corpo de Bombeiros