Bombeiros recebem formação sobre «Salvamento em Grande Ângulo»

Decorreu, em dezembro, nos quartéis de bombeiros do Pinhal Novo e do Montijo, uma ação de formação sobre Salvamento em Grande Ângulo. Este é o nome pomposo daquela que constitui uma das disciplinas mais controversas da formação dos bombeiros. Parte da componente prática deste curso foi ministrada na Serra da Arrábida e pode ser apreciada na Galeria de Fotos.

A acção de formação incidiu sobre as funções de uma equipa de Salvamento em Grande Ângulo (SGA), nome dado a uma equipa habilitada a realizar operações de salvamento em locais de difícil acesso, designadamente: salvamento em meio urbano, com evacuação de vítimas de edifícios de média e grande altura, e salvamento em poços, pontes e arribas.

Para a componente prática da formação, foram utilizados equipamentos específicos disponíveis no Corpo de Bombeiros (e reunidos num veículo atrelado adquirido pela Associação em 2003 – Ver Foto). Trata-se de equipamentos certificados de montanhismo e espeleologia, uma vez que o SGA recorre, com algumas adaptações, às técnicas destas modalidades.

O Corpo de Bombeiros de Pinhal Novo adquiriu o primeiro equipamento de SGA em 1998, recebeu formação inicial com os Bombeiros de Águas de Moura e realizou diversas ações de formação conjunta com os Bombeiros de Cacilhas. Até à data, a corporação pinhalnovense apenas foi chamada a recorrer às técnicas de SGA para realizar operações de resgate de vítimas em poços: dois salvamentos de vítimas, com vida, o resgate de um cadáver e vários salvamentos de animais.

A controvérsia começa no nome…

O nome desta especialidade da intervenção dos bombeiros foi traduzido do inglês «High Angle Rescue» e, pelos vistos, é logo na tradução à letra desta terminologia utilizada pelos norte-americanos que começa a controvérsia sobre o SGA. Em vez de “Salvamento”, há quem prefira chamar-lhe “Resgate”.

Para Luís Neto, um dos participantes no curso agora realizado, «o objetivo do SGA é socorrer vítimas que se encontrem em locais de difícil acesso» e “socorrer” não é exatamente a mesma coisa que “resgatar”. Explica este bombeiro: «Uma coisa é fazer resgate, ou seja, livrar do perigo e colocar a vítima em local seguro; outra coisa é prestar socorro, que, para além de colocar a vítima em local seguro, implica avaliar a vítima e prestar-lhe os cuidados de saúde de emergência adequados, se necessário.»

Para o bombeiro, se isto não cria grandes conflitos de competências nas cidades, «onde os bombeiros são, inquestionavelmente, a entidade que presta socorro», já o mesmo não acontece na montanha, onde atuam outros intervenientes, como os clubes de montanhismo, mais vocacionados para o resgate e que, habitualmente, são quem melhor conhece o terreno.

Uma história sinuosa, num país de Baixa e Média Montanha…

Neste contexto, explica o bombeiro, a conceção predominante, hoje em dia, é a de que aos bombeiros está reservado o chamado “salvamento urbano” e a primeira intervenção. Para a montanha, houve, pelo menos, em 2000, uma tentativa de criar «uma estratégia integrada de salvamento», que passou pela constituição de uma equipa voluntária multidisciplinar de Resgate. A iniciativa foi do extinto Serviço Nacional de Proteção Civil e terá caído por terra com a recente fusão com o Serviço Nacional de Bombeiros.

Luís Neto fez parte dessa equipa especializada, a denominada Equipa Mista de Intervenção Rápida (EMIR), que incluía cerca de dezasseis operacionais com as mais variadas formações, entre enfermeiros, bombeiros e especialistas em manobras de resgate. Segundo ele, esta era uma equipa especializada de apoio aos bombeiros para situações de socorro complexo, e nunca se pretendeu substituí-los. «Os bombeiros ficavam com o chamado “salvamento urbano” e a primeira intervenção e, se fosse necessário, a equipa de resgate da proteção civil era acionada e colocada em qualquer ponto do território continental em 60 minutos. Para tal, dispunha de meios terrestres e prioridade na utilização dos helicópteros do SNPC», explica. Além desta equipa, o objetivo do SNPC era formar outras com os mesmos objetivos, no Porto, Guarda e ainda a Sul do Tejo.

Esta equipa realizou apenas um salvamento, em Arruda dos Vinhos, quando um indivíduo tentou o suicídio, subindo a uma torre de alta tensão. «O salvamento foi executado com sucesso e a rapidez e o profissionalismo da equipa mereceu as melhores referências da Câmara Municipal local, incluindo um louvor da Edilidade», recorda Luís Neto. A equipa desenvolveu ainda outras atividades, nomeadamente em exercícios com a GNR, clubes de montanhismo e bombeiros locais, na Serra da Estrela; participação nos exercícios S. Jorge 2002 e 2003, das Forças Armadas; ações de formação em Universidades; e envio de elementos da equipa para limpeza da orla costeira aquando do derrame do navio Prestige, na Galiza.

Pinhal Novo, Montijo e Seixal em formação conjunta

No curso de SGA agora realizado participaram cinco elementos do Corpo de Bombeiros de Pinhal Novo – o Bombeiro de 1ª Classe Luís Neto, o Bombeiro de 2ª Classe Tiago Silva, e os Bombeiros de 3ª Classe Leonel Barradas, Ludgero Bento e Toni Lopes -, e mais cinco colegas da corporação vizinha do Montijo. Além dos exercícios realizados na casa-escola, parte da formação prática foi ministrada na Serra da Arrábida (Ver Galeria de Fotos).

Entretanto, e à semelhança do ano passado (Ver Fotos), terminou também no quartel-sede, no domingo, 19 de dezembro, uma ação de formação sobre Salvamento e Desencarceramento, em que participaram cinco elementos da corporação de Pinhal Novo, três do Montijo e dois do Seixal.

Fonte: Helena Rodrigues c/ Luís Neto