João Daniel Farias Joaquim

Posto: Bombeiro 1ª

Data de Nascimento: 26 de julho de 1981

Profissão: Bombeiro Sapador na Força Especial de Proteção Civil

5 março, 2023 pelas 10 horas

Entrevista do Grupo Cadetes, ao B 1ª Cl João Daniel, em relação à sua deslocação ao Chile, como “Bombeiro Sapador ao serviço da FEPC”

O Instrutor subchefe Tiago Silva, convidou o Bombeiro 1ª Classe João Daniel Farias Joaquim, para uma breve entrevista com o grupo de Cadetes, por ter participado como Bombeiro Sapador da FEPC, integrado na FOCON, que se deslocou ao Chile, entre os dias 12 de fevereiro e 1 mar de 2023, em apoio no combate aos incêndios florestais naquele país.

Antes de mais quero agradecer a tua disponibilidade João Daniel, pela tua presença em poderes estar aqui, dando conhecimento a este grupo de jovens Cadetes, o que foi a tua inédita experiência, no combate aos fogos florestais no Chile, que se encontra localizado no subcontinente da América do Sul e cuja a sua diversidade, quer na área do socorro, quer no acentuado relevo, em nada tem de semelhante á nossa realidade. Amigo João Daniel, reforço os meus sinceros agradecimentos e do nosso Comandante que não lhe foi possível estar presente e dava a palavra ao Cadete mais jovem do grupo, que certamente ele e os outros elementos, estão muito curiosos em ouvir a tuas justificações da tua nova experiência de vida, nesta tão nobre missão na deslocação aquele país. Obrigado.

Amigo João Daniel, o meu nome é GUILHERME PEREIRA, faço parte do grupo de cadetes desta corporação e se me permite gostava de lhe colocar 4 perguntas:

A minha 1ª pergunta seria a seguinte.

Qual a sua identificação, começando pelo seu nome completo, idade e data de nascimento, estado civil e se tem filhos e a sua residência atual?

O meu nome é João Daniel Farias Joaquim, tenho 41 anos de idade e nasci em 26 de julho de 1981, sou casado tenho um filho e uma enteada e estou a residir nesta localidade.

Como 2ª pergunta, questionava-o sobre.

Quais as suas habilitações literárias, e caso não tenha o 12º ano, se pensa concluir a escolaridade mínima obrigatória?

Tenho o 12º ano, concluído há cerca de 5 anos, pelo programa RVCC (Reconhecimento, Validação e Certificação de Competências), que consistia num processo de demonstração de competências adquiridas e desenvolvidas ao longo da vida.

3ªPergunta.

Qual é a sua profissão atual e há quantos anos a exerce, e porque optou por essa profissão e não qualquer outra?

A minha profissão atual é de Bombeiro Sapador na Força Especial de Proteção Civil, há cerca de 15 anos, que teve início no ano de 2008. Tal fato deve-se essencialmente, por ter surgido uma oportunidade com a criação desta Força Especial da ANEPC (Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil) agregada ao MAI (Ministério da Administração Interna). Foi na realidade uma oportunidade que me surgiu na vida, assim como para outros meus colegas, que também eram aqui bombeiros voluntários, uns ainda cá permanecem na Corporação e outros acabaram por desistir. Este novo passo que considero mais seguro em termos profissionais, em nada me afetou de prestar os meus serviços como bombeiro voluntário ao serviço desta Corporação nas minhas horas livres e deixem-me dizer-lhes, que o faço com muito orgulho.

Foi sem dúvida uma nova experiência, que iniciei naquela força, como elemento das brigadas helitransportadas no combate aos incêndios florestais e que de alguma forma, também constituiu para uma experiência de vida diferente, sendo transportado por meios aéreos e não terrestres para o combate aos incêndios florestais, no mais curto espaço de tempo, enfrentando aquilo que nós bombeiros na prática, chamamos de fogos nascentes.   

4ª E última pergunta e desde já o meu obrigado, pela sua colaboração.

Nas tuas horas de descanso praticas outras atividades, quais? E com que regularidade?

Sim, eu trabalho em regime de parti-me na firma da Lisnave em Setúbal, também executo reparações de telemóveis em casa e estou inserido num grupo de motares, em que por vezes aproveitamos para fazer os nossos passeios.

Sou o cadete ANTÓNIO SANTOS e atendendo que a sua profissão é ser bombeiro sapador na Força Especial da Proteção Civil ao serviço do estado, também gostava de lhe colocar 4 perguntas:

Então a minha 1º pergunta era a seguinte,

 O que faz um bombeiro sapador na Força Especial profissionalmente e em que local se encontram sediados?

Bem, as nossas principais funções, em que estamos a trabalhar diretamente sob a responsabilidade da ANEPC (Autoridade Nacional Emergência e Proteção Civil), como disse anteriormente, inserem-se em várias vertentes na área do socorro, que são as seguintes:

A “vertente apeada” que consiste em combater os incêndios com as ferramentas mecânicas e manuais.

A “vertente com veículos” é a área dos VL’s (veículos ligeiros) VF’s (veículos florestais) e VT’s (veículos tanques) para abastecimento de água, das viaturas de combate.

A “vertente de mergulho” para socorro em situações de naufrágio.

A “vertente de montanha” são os elementos, que se encontram situados na serra da Estrela, para tudo o que esteja relacionado com o socorro, com cotas de elevada altitude.

A “vertente dos drones” são equipas que estudam os tipos de incêndios, pontos quentes, perímetro dos incêndios e a melhor colocação das equipas e veículos de combate no terreno.  

E por último também existe a “vertente das equipas de logística” para apoio em termos de alimentação e pernoitas em circunstâncias mais perlongadas nos teatros de operações. 

Como 2º pergunta,

Perguntava-lhe se alguma vez se encontrou em dificuldades no exercício da sua profissão, onde, e em que circunstâncias?

Sim, já estive em situações consideradas complicadas, mas graças a Deus, sempre conseguimos sair ilesos, tirando algumas queimaduras ligeiras sem gravidade, que derivado às mudanças bruscas do vento, por vezes nos surpreende e ficamos cercados. Todas as situações, aconteceram mais no norte do país, em que por vezes era difícil a extinção dos incêndios, devido declive acentuado do relevo existente.

A minha 3º pergunta, era a seguinte,

Qual foi a sua maior alegria, na área do socorro?

Eu diria, não uma, mas sim várias alegrias e o dos meus companheiros na área do socorro, que essencialmente se traduzem em ter conseguido salvar pessoas e os seus bens, quando se encontram em situações muito complicadas, em risco de perderem os seus haveres e as suas próprias vidas. Não consigo agora equacionar as inúmeras situações, que ocorreram ao longo destes anos, definindo qual a maior, mas acreditem que me sinto imensamente feliz, por ter socorrido pessoas em casos extremamente complicados, em que as encontramos desesperadas na luta pela sua própria vida, impotentes para enfrentar a força das chamas em grandes incêndios.

E para finalizar as minhas perguntas, o meu obrigado também pela sua colaboração e a minha 4ª questão é a seguinte,

Com os conhecimentos adquiridos na área do socorro ao longo dos anos, quer como Bombeiro Voluntário ou como Bombeiro Sapador da Força Especial de Proteção Civil, consegue-nos dizer qual a diferença e onde considera, que se possam complementar?

Eu, para mim a diferença entre ambas está só na cor da farda e no ordenado, porque a finalidade em si é igual. É claro também possuímos uma formação continua mais acentuada diariamente o que nos dá outra confiança de atuação nas ocorrências, mas o fundamental no socorro é rigorosamente igual.

Na ausência do meu colega DIOGO MONTEIRO, desta vez vou ser eu novamente GUILHERME PEREIRA a substitui-lo e se me permite, também lhe colocava 4 questões dele:

A 1ª pergunta do Diogo era a seguinte.

Na sua deslocação ao Chile, inserido na FOCON da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil, por quantos elementos era constituída a força e sepertenciam todos à Força Especial da Proteção Civil? E caso não sendo, quais eram as outras forças e o número participantes? 

A FOCON, não era constituída só por elementos da Força Especial. Eramos um total de 144 elementos, 44 da Força Especial, 30 dos Bombeiros Voluntários, 30 da GNR (Bombeiros Sapadores Florestais), 30 da GNR (UEPS-Unidade de Emergência de Proteção e Socorro), 6 do INEM (Instituto Nacional de Emergência Médica) e 4 da Proteção Civil.

Como 2ª pergunta era a seguinte.

Qual foi o dia da partida, quantas horas demorou a viagem e em que localidade permaneceram? E já agora em termos de instalações e logística?

Nós saímos de Portugal no dia 12 de fevereiro de 2023 e regressamos no dia 1 de março de 2023 (16 dias), o percurso demorou cerca de 12 horas e foi em voo direto entre Lisboa e Santiago, no Chile. Depois seguimos em autocarros até à cidade de Consetion, que ficava a cerca de 500 quilómetros de distância. Quanto ás instalações onde permanecemos era num colégio privado e as nossas refeições eram rações de combate durante o dia na floresta e à noite uma refeição quente, no refeitório do colégio, onde ficávamos a descansar durante a noite.

3º pergunta.

Em que viaturas se deslocavam para os locais de incêndio, qual a forma de combate e que tipo de relevo foram encontrar?

O meio de transporte que utilizamos, para os locais dos incêndios, que ficavam a cerca de 50 quilómetros de distância, era em autocarros, isto porque o nosso estado não autoriza que pudéssemos conduzir os veículos daquele país e também não enviou veículos nossos. Quanto ao relevo era péssimo, com altitudes cerca de 2 vezes superior à serra da Estrela, e com grandes paredes de inclinação, que dificultava a progressão no terreno e nos obrigava a cortar mato, para criar aberturas de faixas e evitar que o incêndio passasse de um lado para outro, isto quer no método direto (na frente de fogo) ou no indireto (fora da frente de fogo).

Última e 4ª pergunta do Diogo Monteiro.

Se tivesse que regressar novamente ao Chile, para colaborar no combate aos incêndios florestais e não sendo obrigatório, qual seria a sua decisão? E porquê?

Sem dúvida que ia na mesma, mas isto, uma pessoa também tem família e por vezes não é fácil, para os que cá ficam. Contudo se tivesse que regressar já me sentia mais confiante, pela experiência já vivida.    

Porque sou filho do João Daniel, e considero que os meus companheiros já colocaram as perguntas mais pertinentes sobre a tua deslocação ao Chile, vou tentar também colocar-te 4 perguntas.

Então a minha 1º pergunta é.

Atendendo que a ausência nunca é fácil, assim como os costumes e outros fatores associados à distância, como foi a tua adaptação aos métodos usados pelo povo chileno, no combate aos fogos urbanos e florestais?

O método utilizado pelos bombeiros chilenos nos incêndios urbanos não conheço muito bem, mas acredito que seja muito idêntico ao nosso. Quanto aos incêndios florestais podemos considerar igual, atendendo que todos os anos vem equipas chilenas, trabalhar connosco em apoio no combate aos incêndios florestais. Da mesma forma conforme surgiu este ano o nosso apoio, também já aconteceu em anos anteriores participarem equipas portuguesas no combate aos incêndios naquele país. Nós cá em Portugal somos conhecidos como “brigadas apeadas”, enquanto eles lá são conhecidos pelos “brigadistas”, mas posso-vos garantir, que tanto eles como nós funcionamos com o mesmo método de combate.     

Como 2ª pergunta, colocava-te a seguinte questão.

Estando nós no continente Europeu e como todos nós sabemos, que no continente Americano existem meios mais sofisticados no combate aos incêndios, porquê Portugal no apoio e não outro pais da América? E se existe algum protocolo entre Portugal e o Chile, nesta área?

É facto que existem países muito evoluídos no combate dos incêndios florestais no continente Americano, mas em contrapartida também se encontra outros, que pouco ou nada avançaram nos métodos de extinção dos grandes incêndios. Quanto à existência de um protocolo entre Portugal e o Chile é verdade, foi ciado há cerca de 6 anos um protocolo, que permite uma ajuda mútua entre ambos os países, sempre que as condições se agravem. No entanto e para vosso conhecimento para além de Portugal, também Espanha, México, Brasil e outros países europeus, se encontravam lá a colaborar.

3ª pergunta.

Não falando em incêndios, qual é a tua opinião em relação à vivência no dia a dia daquele povo?

O povo chileno vive muito à base do comércio, o custo de vida é muito elevado e os seus salários são baixos. Só para vocês terem uma ideia da realidade do custo de vida reparem, enquanto cá um café custa na ordem dos 75 cêntimo, lá custa 1800 pesos, que corresponde a 2 euros e quem diz o custo do café, nos géneros alimentícios é a mesma coisa.

E para finalizar a minha 4ª pergunta era a seguinte.

Com esta nova missão, num país totalmente diferente em matéria de incêndios florestais, qual foi o tipo de relevo e vegetação que encontraste?

Quanto ao relevo como disse anteriormente é muito montanhoso, com altitudes na ordem dos 3 mil metros, com grandes paredes que só com o auxílio dos troncos e ramas das árvores é que era possível descer ou subir os declives, para conseguirmos progredir. A vegetação é muito à base do eucalipto e do pinheiro, atendendo que eles exportam frequentemente este tipo de madeira. No entanto existe uma grande agravante é que depois do corte das árvores para exportação, deixam muito lixo nas matas, devido à desbastação das árvores e que em matéria de incêndios, se torna muito complicado, devido à manta morta existente na floresta.

Por fim quero agradecer-te em meu nome e dos meus colegas, pela tua participação e os esclarecimentos que nos facultaste desta tua grande missão, que eu como teu filho, sinto muito orgulho nesta tua nobre e inédita experiência, que certamente te vai marcar, para o resto da tua e nossa vida. Muito obrigado pai.

Quartel em Pinhal Novo, 05 de março, 2023                     O Instrutor

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                                                                                           O Subchefe Tiago Silva

Fonte/Fotos – Fernando Pestana secretário da MAG